
Projeto Também Muito Secreto
Projeto altamente secreto, espero que entendam...
Top secret
Neste projeto, trabalhei lado a lado com outra UX/UI Designer (essencial para termos duas cabeças a pensar em caminhos alternativos). Mas fui assumi o papel principal no design liderando decisões, propondo soluções, e fazendo a ponte entre a visão estratégica e a realidade do utilizador, mas sempre em trabalho de equipa com a Designer.
Fui responsável por:
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Estruturar e uniformizar a linguagem visual dos websites
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Criar interfaces acessíveis, responsivas e intuitivas para desktop e mobile
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Coordenar o design com as equipas técnicas (frontend e backend) e institucionais
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Estabelecer fluxos entre websites e hierarquias de informação
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Traduzir necessidades complexas do cliente em decisões práticas e sustentáveis
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Estudar os bastidores (backoffice) para quem vai gerir conteúdos diariamente
E tudo isto dentro de um contexto desafiante:
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Prazos apertados
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Stakeholders com interesses divergentes
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Websites antigos, desorganizados e com baixa acessibilidade
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Conteúdos extensos, confusos e mal distribuídos
Começámos com uma fase de discovery sólida, estudando como os utilizadores interagem com os websites atualmente tanto os que navegam como os que gerem conteúdo diariamente. O foco foi sempre duplo: facilitar a vida a quem visita os websites, e também a quem trabalha neles todos os dias.
A seguir, entrámos no design. Aqui, o Design System Ágora foi a nossa espinha dorsal — mas não era perfeito. Faltavam componentes, não existia cobertura para algumas das necessidades mais específicas do cliente, e muitas vezes tivemos de encontrar alternativas criativas, mantendo a coerência e sem comprometer as normas de acessibilidade definidas em acessibilidade.gov.pt.
Foi um verdadeiro exercício de diplomacia: vender boas práticas ao cliente sem nunca ceder em princípios essenciais, como contraste, legibilidade ou hierarquia visual.
Spoiler: carrosséis automáticos com informação a rodar não são acessíveis (por mais que o cliente insista neles).
Um dos grandes desafios foi garantir uma arquitetura coerente entre os vários websites, respeitando a identidade e autonomia de cada entidade, sem que o ecossistema se tornasse caótico. Foi preciso muito trabalho de bastidores, dezenas de reuniões e uma boa dose de psicologia de grupo para alinhar interesses, estruturas e fluxos de navegação.
Aqui, o ouvir e perceber foi tudo. Entender o que cada grupo queria, propor soluções que não comprometessem a experiência de navegação e encontrar uma estrutura transversal sem ferir sensibilidades institucionais foi meio caminho andado.
Difícil. Vinha devagar, vinha disperso e muitas vezes nem vinha. Usar o Figma como ferramenta de feedback foi um passo natural para nós, mas disruptivo para eles. Ainda assim, fomos mantendo a cadência com reuniões semanais e partilhas regulares, mesmo que o retorno nem sempre fosse técnico, mas sim político. (Ah, e claro: mais carrosséis.)
O projeto ainda está a decorrer, mas o rumo é claro. Criámos dezenas de wireframes e protótipos navegáveis com responsividade, animações e fluxos realistas para facilitar a aprovação e implementação. Estamos a implementar uma estrutura escalável e acessível, sempre com o utilizador em primeiro lugar.
Sinto que conseguimos criar um ecossistema coerente, moderno e preparado para o futuro mesmo com todos os desafios à mistura.
Projetar para o setor público é um teste à nossa resiliência como designers. Há política, há burocracia, há silêncios longos e vontades que colidem com tudo o que aprendemos sobre boas práticas de UX e UI. Mas há também uma enorme responsabilidade: estas plataformas são utilizadas por milhares de pessoas, todos os dias.
Neste projeto, tive de puxar por todas as ferramentas que tenho: empatia, capacidade técnica, boas capacidades de comunicação e apresentação, diplomacia, noção de desenvolvimento, visão sistémica e, talvez a mais importante, a teimosia saudável de quem não desiste de fazer bom design público.
Aprendi, mais do que nunca, que:
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Um bom Design System (mesmo não 100% completo) pode ser uma das maiores armas de consistência e escalabilidade
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Um bom designer não se impõe, mas sabe quando deve bater o pé
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A acessibilidade não é opcional é um direito
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E que o melhor design público não é aquele que brilha, é aquele que facilita a vida e respeita o tempo das pessoas.