
Projeto Extremamente Secreto
Infelizmente, não posso mesmo partilhar informações sobre este projeto... espero que entenda!
Top secret
Neste projeto, assumi a função de UX/UI Lead Designer, liderando a definição da experiência e da interface de um sistema nacional crítico, com impacto direto em operações sensíveis a nível estatal.
Num projeto com esta complexidade, onde várias equipas, entidades e developers se cruzam, o caos pode instalar-se rapidamente. A verdade é que muitas das falhas de usabilidade e consistência surgem não no design, mas na transição para o desenvolvimento. Garantir que as decisões de UX/UI são respeitadas tornou-se uma missão em si mesma.
Para reduzir a fricção e manter o fio condutor, criei rotinas de proximidade com as equipas técnicas, incluindo Design Pods recorrentes onde discutíamos componentes, comportamentos e decisões sensíveis. Estas sessões foram fundamentais para alinhar todas as partes, envolver os developers desde cedo, e proteger as decisões de design, que, no meio de tudo isto, precisavam de ter espaço para respirar.
Apesar do nível extremo de secretismo envolvido (NDA full mode), fui responsável por:
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Criar e escalar um design system de raiz, adaptado a um ecossistema ultra-regulado.
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Traduzir processos complexos e hierarquizados em fluxos simples e usáveis.
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Acompanhar diariamente múltiplas equipas de desenvolvimento, garantindo consistência e viabilidade técnica.
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Gerir e adaptar a experiência consoante perfis de utilizador, acessos e contextos operacionais.
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E claro, manter o foco no utilizador final, mesmo quando a burocracia ou o tempo pareciam puxar para o lado oposto.
Aqui, o design não foi apenas um trabalho visual foi uma peça de estratégia, diplomacia e estrutura.
Entrei numa fase ainda inicial do projeto mas com parte da investigação junto dos utilizadores e da recolha de requisitos já feita, tive de adaptar rapidamente o meu ritmo a uma realidade altamente complexa e em constante mudança.
E o desafio era triplo:
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Como dar resposta a um projeto com expectativas monumentais, num prazo irrealista para a sua escala?
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Como projetar uma solução coerente e robusta enquanto o desenvolvimento de código já avançava sem sequer haver um design system?
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Como ganhar tração e espaço num ambiente dominado por especialistas com décadas de conhecimento profundo enquanto eu ainda estava a aprender a linguagem deste ecossistema?
Ao mergulhar no projeto, percebi rapidamente que a luta não era só contra o tempo. Era também contra a complexidade dos dados, as estruturas organizacionais e a multiplicidade de perfis de utilizado, cada um com tarefas, acessos e responsabilidades muito distintas.
Enquanto eu criava wireframes e desenhava componentes para especificações técnicas, tinha de aprender à velocidade da luz: desde os processos internos da entidade, aos fluxos de decisão, passando pelas limitações técnicas do back-end e pelas implicações legais e operacionais.
Foi um verdadeiro exercício de empatia, resiliência e adaptação. Numa luta constante com o tempo, o código, o ego dos envolvidos (incluindo o meu) e as centenas de decisões difíceis.
Aqui não houve espaço para atalhos. Com alguns módulos, ou "aplicações", já existentes a funcionar como plataformas isoladas, surgiu a dúvida: "Utilizo como base o que já existe ou crio de raiz?" A resposta foi clara para mim:
“Se vou fazer, vou fazer bem.”
E fiz. Criei um design system de raiz, mesmo com todas as limitações que o tempo e a infraestrutura impunham. Trabalhei de perto com especialistas seniores, que já vinham com visões e certezas firmes sobre o que “funciona”, onde prevalecia a lógica do "menos cliques possível", sem breadcrumbs, sem floreados.
Foi um exercício de simplificação ao extremo. A estética cedeu ao pragmatismo. O mote? "Less is more", mas em modo hard mode.
O design system nasceu do zero. Mas não nasceu sozinho.
Foi um processo iterativo sem fim à vista. Reuniões intermináveis, ajustes contínuos, debates acesos. Não havia uma visão única, e os inputs surgiam em doses homeopáticas, cada módulo trazia novos requisitos que quebravam ou reconfiguravam decisões anteriores.
Essa incerteza obrigou-me a estar constantemente em contacto com os developers – garantindo que o que se desenhava era exequível, que não quebrava o que já existia e que continuava a servir o utilizador final.
Um design system, além de coerência, exige vigilância constante. É um organismo vivo, e aqui, foi quase uma criatura mitológica que tive de domar.
Do lado da experiência do utilizador, o objetivo era claro:
Criar algo que funcionasse de forma intuitiva e sem fricção, mesmo num ambiente denso e tecnicamente exigente.
Desenvolvemos um conjunto de módulos que seguiam a filosofia “menos é mais”, eliminando ruído e focando apenas no essencial. Evitámos funcionalidades desnecessárias, priorizámos o impacto real no dia a dia dos utilizadores, pensando não só nos profissionais experientes, mas também nos novos e na longevidade do sistema.
Nada foi feito por capricho. Tudo teve um propósito.
Este projeto ensinou-me mais do que qualquer livro.
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Trabalhar com dados sensíveis e segurança máxima não é apenas um desafio técnico é uma lição de responsabilidade, ética e compromisso com o impacto social.
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Aprendi a lidar com pessoas, com os egos (e com o meu), numa dinâmica de confronto constante entre ideias, necessidades e prioridades mas onde o foco tem de ser sempre o utilizador.
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"Menos é mais" deixou de ser um lema estético e passou a ser uma filosofia de trabalho. Otimizar segundos por interação pode significar ganhos gigantescos numa estrutura de Estado.
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Um bom projeto precisa de cabeça, tronco e membros. Sem estrutura, os desvios tornam-se inevitáveis. Tivemos de fazer sacrifícios, mas sempre conscientes do que estava em jogo.
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Sempre fui multidisciplinar, mas aqui tive de assumir o caos com garra: desenhar, testar, definir sistemas, interagir com devs e PMs, aprender sobre processos internos e legislações e ainda criar algo coerente e usável.
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Um design system construído de raiz, mesmo com todos os obstáculos, é uma ferramenta essencial para garantir escalabilidade e consistência num projeto de grande escala.